«Querido Scamy,

Esta semana, conheci Susan Lagnahild, da Grifinória. Ela é m-m-mui-i-to bonita! a minha nova amiga. Hããããã... Tudo em nome da união Texuguinhos e Leõezinhos!

Até breve,

Orion.

P.S.: Combinamos estudar Poções juntos.
P.P.S.: E Trato das Criaturas Mágicas, quando chegarmos ao terceiro ano!»

«Scamy,

Nem vais acreditar no que aconteceu!!!!!!!!!!!! Tivemos uma expedição ao Lago Negro. Aprendemos um feitiço novo: o Cabeça-de-bolha. Sim, Scamy, ao Lago Negro. Não te assustes!

Devias ter visto, antes de entrarmos, a forma como lancei Ina (a Ina Flitwick, a meia-duende da Lufa-Lufa; não sei se alguma vez te tinha falado dela...) para o Lago! Ela voou... -vrussssssssssshh!- e, depois, no final, fez... fez... fez -splash!- -plooocc!- BUMMMMMMMM!!!!!!

Nadamos até às suas profundezas. Encontrei umas algas estranhas, umas conchas muito bonitas e uns galões. Ah, houve quem encontrasse uns sereianos, uns caranguejos, entre outros, tantos e muitos.

Saudações hogwartianas,

Orion.»

«Querido Scamy,

Neste verão, fui de férias com a Susan (para os amigos, Sue — sim, somos amigos). Ela não só conheceu Cotswolds, como conheceu, em geral, o mundo não-bruxo. Foi um verão incrível!

Na minha terra natal, mostrei-lhe o Jardim Secreto do Castelo Sudeley, o Cheltenham, o Castelo Beverston e a Mansão Calcot. Fomos ao Mercado Tetbury, à antiga vila romana Chedworth e à Abadia Malmesbury. Visitamos a Quarwood, a Mansão Woodchester e o Parque Newark. Ah, quase me esqueci da Mansão Owlpen, da Torre Broadway e da Casa Corsham.

Em casa, apresentei-lhe todas as criaturas mágicas que a minha mãe, Esme, criava e cuidada. Nas traseiras, introduzi-a à fantástica estufa mágica do meu pai, Tate. Entre o itinerário cultural de Cotswolds e o pequeno mundo mágico dos Scamander, revimos algumas das matérias do ano anterior.

Alimentamos, escovamos, demos banho, montamos e brincamos com criaturas mágicas. Estudamos, semeamos e cuidamos de plantas mágicas. Lemos histórias, jogamos jogos de tabuleiro, pescamos, passeamos, convivemos com não-bruxos (sempre mantendo a discrição, claro!), corremos pelos parques, praticamos alguns feitiços básicos, ajudamos a preparar algumas poções, escrevemos cartas, contamos estrelas, rimos muito, vimos televisão, entre outros, tantos e muitos! Foi in-crí-vel!!!!

Mais tarde ou mais cedo, o verão terminou. Tivemos de regressar a Hogwarts.

Desculpa por não te ter escrito antes, calculo que tenhas percebido que estive ocupado!

Do teu,

Orion.»

«Querido Scamy,

Hoje, fomos, pela primeira vez, a Hogsmeade!!!! O vilarejo é tããããããão lindo! Espero, um dia, poder levar-te lá, onde quer que te encontres.

Comemos muitos doces, visitamos muitas lojas e lojinhas, vimos neve, rimos e... e... dei as mãos com a Sue.

Saudações hogwartianas,

Orion.»

«Querido Scamy,

Ultimamente, tenho conversado muito com a Lotus, a Lovegood. Conhecemo-nos no segundo ano, salvo erro. Ficamos amigos em nome da união texuguinhos e leõezinhos.

Ela é uma amiga divertida! Pena que não saiba duelar... Duhhhhh!

Até breve,

Orion.»

«Meu Scamy,

Tivemos a primeira aula de Trato de Criaturas Mágicas. Num primeiro momento, a Professora Stanton apresentou-nos alguns testrálios. Bom, apresentou a alguns, porque só quem presenciou a morte é que os pode definitivamente ver. Não sei se alguma vez viste um, mas são uma espécie de cavalos alados, no entanto, pela condição que precede a possibilidade de os ver, com um aspeto... sinistro? Eu, pessoalmente, gostei muito de os ver! Têm um corpo esquelético, um rosto com alguns elementos reptilianos, asas de couro, estrutura esquelética, pele lisa, escura, sem carne, escorregadia e brilhante, longas crinas pretas, cauna enorme, olhos negros, um tufo e presas afiadas.

São um símbolo de agouros. Para a maioria dos bruxos, que é incapaz de perceber a beleza desta criatura mágica. Muitos, neles se incluindo o Ministério Mágico, consideram os testrálios extremamente perigosos.

Enfim! Num segundo momento, vi um niffler. Ao contrário de muitos, que esconderam os seus pertences, quis dar-lhe o meu, para o tentar resgatar, mas ele... fugiu! Fugiu para um jardim secreto. Alguma vez foste lá? Foi uma aventura e tanto!

Vejo-te depois,

Orion.»

«Scamy,

Não te posso contar como, nem quando, nem porquê, nem com quem, mas aconteceu uma coisa inesperada nas escadarias da Escola.

Amarelo-esverdeado.

Orion.»

«Querido Scamy,

As próximas passagens estão comprometidas. Hogwarts não é mais segura. Tivemos de fugir. Não te posso revelar a atual localização.

Fica bem. Do teu,

Orion.»

«Querido Scamy,

Não contava voltar a escrever-te. Eu sei, passaram-se alguns anos desde a minha última entrada, no quinto ano, data em que estivemos refugiados, após a queda de Hogwarts. Desculpa-me, mas não posso permitir que saibas a localização do nosso refúgio — será sempre o meu segredo; também tens os teus, não?

Encontrei-te esquecido na gaveta de um armário esquecido.  Um mero acaso. Não estava à espera, confesso. Acredito que a tua confiança tenha sido quebrada, depois deste tempo todo. Em todo o caso, escrevo-te uma última vez. Tu mereces. E eu também, como uma despedida.

Apesar dos tempos que se viveram, entre o quinto e o sétimo ano, concluí os estudos.

Estive em Londres por algum tempo, à procura de um sentido. Mas não. Regressei a Cotswolds, desta vez, definitivamente acompanhado, e por aqui fiquei.

Ainda que viesse a casa no verão e no Natal, tive saudades. Infelizmente, não resta, senão, uma sensação agridoce de nostalgia, ingenuidade e infância — tempos que nunca voltarão; foi-se a magia, por muito que ela faça sempre parte de nós.

O meu pai “reformou-se”. A estufa, o jardim e a casa de ervas, plantas e especiarias foram, tão-só, uma fachada para os não-bruxos, enquanto era criança. No entanto, eu e o Lucien assumimos o negócio. Hoje, somos a Mui nobre e antiga Casa de Chás Scamarchander — no fim, deixo-te um postal nosso. És bem-vindo, Scamy. Terei muito gosto em receber-te! O Tate ficou feliz por o fazermos. É um trabalho pequeno, local e honesto. Mas se assim somos felizes, por que não?

A minha mãe, mal regressei, contou-me tudo — sim, tudo: a comercialização indevida de matérias-primas de criaturas mágicas no mercado negro bruxo. Nos primeiros tempos, não quis acreditar no que me dissera. Esme nunca foi a mesma, desde então. Chateamo-nos, claro. Quem sou eu, no entanto, para ficar eternamente resignado com a minha mãe? Recordo-me, a propósito, de ela dizer — dizia-o muitas vezes — que perdoar é uma dádiva: não para o outro, antes, para o próprio.

Ao lado da Casa de Chás, assumi a criação de criaturas mágicas. Tornei-me num verdadeiro estudioso e, em breve, publicarei um guia — chama-se “Criaturas Fantásticas: Guia Introdutório ao Reino Animal Mágico, Volume I” —, em honra ao meu bisavô, Newt Scamander, numa versão otimizada e elementar daquilo que é a disciplina de Trato de Criaturas Mágicas em Hogwarts. O Lucien, volta e meia, acompanha-me.

Scamy, por último, mas não menos importante, falta-me apresentar-te uma pessoa: o Lucien. Conheci-o no quarto ano, quando ainda estávamos em Hogwarts. Assim que o Castelo foi tomado e tivemos de nos mudar, ficamos próximos. No sétimo ano, perguntei-lhe: “Para onde vais?”. Respondeu-me: “Para onde fores”. Foi o suficiente para convidá-lo para Cotswolds, para a família, para mim. A despeito das inúmeras desavenças que caracterizam a Lufa-Lufa e a Sonserina, damo-nos bem. Vejo nele — para além de um exímio herbologista e pocionista, não obstante as suas tentativas de ser magizoologista — o bem.

Para a semana, visitarei a campa do Gunther, no cemitério de Hogsmeade. Descanse em paz.

Ah, quase me esquecia! De vez em quando, mantenho o contacto com a Sue. Ela foi, é e será um amor para toda a vida. Sei que, onde quer que esteja, será sempre porto seguro, para que, quando necessário, possa voltar.

Do teu eterno,

Orion.»


[P.S.: Talvez nem tudo seja sobre Hogwarts.]